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22 de março de 2019

MAD MAX BRASIL: Conflitos por água batem recorde e atingem mais de 368 mil pessoas em 2018


Por DOBSON LOBO

Os conflitos por água no Brasil explodiram na última década e registraram um crescimento de 513% em dez anos. Os dados foram levantados pelo UOL com a CPT (Comissão Pastoral da Terra), ligada à Igreja Católica, que desde 2002 contabiliza esse tipo de conflito. Em 2018, foi alcançado o maior número desde o início da catalogação, com 276 casos.

O aumento em número de casos se refletiu também no de vítimas. No ano passado, foram 368 mil pessoas afetadas, também o maior registro da série. Além disso, nos últimos dez anos, 13 pessoas foram mortas em decorrência de problemas envolvendo conflito por água --cinco desses assassinatos aconteceram entre 2016 e 2018.

"Um fator para explicar esse aumento é econômico: ele veio depois da crise financeira da primeira década deste século. Houve um aumento na busca pelos recursos naturais, as commodities agrícolas e minerais ou mesmo da terra bruta. Essas áreas passaram a ter mais interesse e se valorizaram, principalmente aquelas onde há recursos como água. Isso aumenta os conflitos", afirma Rubem Siqueira, da direção nacional da CPT.

Desde que começaram as contagens da entidade, foram 18 assassinatos, 19 tentativas de homicídio e 92 pessoas listadas como ameaçadas.

Há mais de 30 anos, a CPT divulga anualmente o relatório intitulado "Conflitos no Campo". A edição de 2019, com dados do ano passado referentes a todos os tipos de violência rural, será divulgada no próximo dia 12 de abril, em Brasília.

Os dados específicos dos conflitos por água ainda mostram que as atividades de mineração são as principais responsáveis pelos conflitos, por poluir rios ou reservatórios, reduzir o acesso ou impedir que comunidades busquem água. Há casos também de impedimento de uso de açudes e barragens, por obras públicas ou por aquisições privadas.

"Os impactos da mineração ocorrem nos aquíferos e nos corpos d'água, seja porque atinge a água do subsolo ao extrair o minério, seja porque tem as barragens de rejeitos. Ainda temos muita consequência do desastre da barragem do Fundão, em Mariana", conta Siqueira.

Os estados que mais registraram problemas foram Minas Gerais e Bahia, com 65 casos cada um, seguidos por Sergipe (55), Pará (37) e Espírito Santo (20). Entre os públicos afetados, 24% eram ribeirinhos, 20% pescadores e 14% eram pessoas afetadas por barragem.

Em 2018, os conflitos ocorreram em decorrência de diversos problemas, mas quase metade por conta dos danos causados pelo rompimento em 2015 da barragem do Fundão, em Mariana (MG); e pelas atividades da empresa Hydro Alunorte, em Barcarena (PA). Juntos, somaram 110 dos 276 conflitos.

No caso da barragem do Fundão, os danos inclusive se espalharam por dois estados. No Espírito Santo, foram 19 conflitos por água em áreas afetadas pela chegada dos rejeitos. Em Minas, foram outros 59 casos.

Wellington Moreira Azevedo presta assessoria técnica a atingidos pelos rejeitos em Governador Valadares (MG). Ele afirma que são muitos os problemas que ainda que atingem os moradores.
"O que os atingidos mais reclamam é sobre a desconfiança da água, com muitas reclamações de alergia, por exemplo. Temos também muitos que se mudaram da cidade, com problema para atrair empresas pela falta de água de qualidade. Além disso, houve queda dos valores do imóveis", afirma.

"Nos distritos, há problemas sérios onde a lama chegou. As pessoas não conseguem plantar nessa terra onde o rio passou com os rejeitos. Esses metais contaminaram fortemente o local e até as vacas não seguram suas crias", completa.

Dos 37 conflitos por água registrados no Pará em 2018, 32 teriam sido por conta da Hydro Alunorte, que explora alumínio em Barcarena.

Em abril do ano passado, o MPF (Ministério Público Federal) no Pará informou que tinha 44 investigações abertas para apurar denúncias de irregularidades relacionadas à instalação e à operação das maiores empresas do polo industrial de Barcarena. Uma delas foi para apurar a suspeita de vazamento de efluentes da refinaria em 17 de fevereiro do ano passado. Foi pedido o embargo de uma das bacias de rejeitos da refinaria da Alunorte.

No ano passado, a tensão fundiária pela dificuldade de acesso à água de qualidade teria resultado em um assassinato. Segundo a CPT, a vítima foi Paulo Sérgio Almeida Nascimento, 47, líder da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia. No dia 12 de março, ele teve a casa invadida e levou quatro tiros. Outra liderança também foi procurada no local, mas não estava presente.

Segundo Robert Rodrigues, assessor do Cáritas Diocesano na região, os problemas com a produção de alumínio já são conhecidos das comunidades de Barcarena e de Abaetetuba há três décadas e causam problemas graves. "Somos comunidades ribeirinhas, e os três principais rios [Murucupi, São Francisco e Pará] estão contaminados. Eles têm os afluentes que vão dar em diversas ilhas, em cerca de 200 comunidades na região."

Se um rio adoece, o povo adoece junto. Se o rio morrer, a gente morre junto

Rodrigues ainda dá como exemplo o rio Dendê, que teria sido poluído por rejeitos jogados pela empresa. "É um rio de que os pescadores dependiam e agora eles viraram mototáxis, autônomos ou estão desempregados. A gente percebe a poluição ao ver rio: ele está branco, como um leite."




Via: uol

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